É muito triste que, sem quaisquer bases reais de amparo estatístico, tendo apenas o achismo como instrumento de posicionamento, as pessoas se arvoram a emitir seus “conhecimentos”, tudólogos que se acham, sobre tudo. Foi assim que um desembargador paranaense fez declarações xenofóbicas contra as regiões Norte e Nordeste do Brasil durante sessão na 2ª Câmara Criminal, em Curitiba (PR). Mário Helton Jorge, desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), afirmou, na última quinta-feira (13/4), que o estado sulista "tem nível cultural superior ao Norte e ao Nordeste" e que também não possui o "jogo político de outros estados". Porém, esses como de costume fazem, antecipando possíveis e justos questionamentos judiciais, ao ser confrontados por suas falas, Sua Excelência correu e emitiu uma nota, por meio do TJ-PR, afirmando que não teve a "intenção de menosprezar ou estabelecer comparação de cunho preconceituoso contra qualquer pessoa, instituição ou região. O magistrado lamenta o ocorrido e pediu sinceras desculpas pelo comentário." Virou praxe, esse povo sem travas, diz qualquer disparate e corre a se desculpar, desmentir ao que de fato motivou palavras e ações.
Sem, no entanto, qualquer intenção de menosprezo ao povo paranaense, ou mesmo tentando revidar o disparate, mas apenas, e sói, para informar aos desavisados, que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) realizou um levantamento que contabilizou 19 candidatos que alcançaram a nota 1000 na redação do Enem 2022 (informação do último mês de março). Das 19 notas máximas, 11 estudantes são nordestinos. Infelizmente, estudante algum do Paraná alcançou. E nem vou levantar os nossos nomes constelares em todas as áreas do saber e arte, vou não.
O professor, antropólogo, Renato Janine, em relação as essas questões de se dizer o que quer, já prolatou: “A sensação que eu tenho, e que tenho repetido constantemente, é a seguinte: as pessoas estão inconsequentes, mesmo as pessoas em cargos públicos, com responsabilidades públicas. A inconsequência tornou-se um traço de caráter brasileiro, talvez até nas relações privadas”. Alguém diria algo em contrário?
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br