Não é novidade que a polarização política que se estabeleceu no mundo, entre extrema direita e esquerda tem gerado distorções conceituais de severa repercussão em valores humanos também, por consequência, claro, civilizatórios, inclusive no Brasil. Formaram-se lados, não pela sensatez, mas por ideologias. Naturalmente que consensos foram estabelecidos sobre essa tragédia da guerra entre Israel e o Hamas, e um deles foi que a organização terrorista causou uma carnificina a centenas de judeus, quando investiram sobre território israelense. Por outro lado, também, a comunidade internacional já reporta a desproporcionalidade dos ataques de Netanyahu à faixa de Gaza, considerando, segundo dados da ONU, que aproximadamente 80% da população de Gaza dependem da ajuda internacional, e cerca de 1 milhão de pessoas necessitam de ajuda alimentar diária, ainda: quase a metade da população é de jovens e mulheres, e o índice de desemprego é de mais de 60%. A situação se torna cada vez mais difícil, dentro dessa visão maniqueísta, porque não se trata de um “game”, onde vidas são repostas após o jogo. Até para uma guerra há regras, acordos internacionais e ao que parece nada disto está sendo considerado, salvo um conceito questionado de direito de defesa de um dos lados. É preciso também compreender, segundo diz a Confederação Israelita do Brasil (Conib), fundada em 1948 e que congrega 14 federações israelitas no país, que tem como objetivo zelar pelos interesses e bem-estar da comunidade judaica brasileira e legitimar a existência do Estado de Israel, que o volume de manifestações antissemitas no Brasil cresceu 1.200% após a guerra. A entidade afirma já ter acionado delegacias e Ministérios Público (MPs) Estaduais e Federal em relação ao antissemitismo no País. Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e vice-líder do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (Geci), tem dito: “O queagente vê na mídia é que a vida israelense, a vida judia, tem mais valor que a vida palestina. Ela tem direito a ser velada; a gente sabe o nome dos judeus que foram mortos, a gente sabe as suas histórias, a gente sabe de onde eles vêm. Enquanto os palestinos, a gente não sabe absolutamente nada. Eles não têm rosto, não têm nome, não têm história”. Vê-se, portanto, que a ebulição dessa guerra no Oriente Médio não alcançou o seu grau máximo de fervura, inclusive porque as incursões militares por terra em Gaza começaram faz poucos dias, mas, infelizmente, as fronteiras ideológicas, conceituais e opinativas estão fincadas com força. Dessa forma, entendo que a reflexão não pode estar submetida a torcidas, mas a vidas..., justiça e direitos.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz
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