É fato: quando uma mulher celebridade vem a público expor violência sofrida por algum homem, a repercussão é imediata. Foi assim que a notícia desse último final de semana, envolvendo a apresentadora Ana Hickmann ganhou os sites de fofoca, chegando a todos os veículos de notícias. Ela teria sido agredida pelo marido, e prestou queixa sobre a violência. Infelizmente, o Brasil tem batido recordes de violência, em diversas dimensões, contra as mulheres. Estudos do DataFolha/FBSP, 2023, noticiam que 35 mulheres foram agredidas física ou verbalmente por minuto no Brasil em 2022. 28,9% (18,6 milhões) das mulheres relataram ter sido vítimas de algum tipo de violência ou agressão. A pesquisa revela, ainda, que uma a cada três mulheres brasileiras (33,4%) com mais de 16 anos já sofreu violência física e/ou sexual de parceiros ou ex-parceiros. O índice é maior que a média global, de 27%. Isso mostra o quão disfuncionais e problemáticas são as relações sociais no Brasil, e o quanto temos que avançar pensando políticas públicas de proteção as mulheres, sugerem os pesquisadores. Infeliz e tragicamente o avanço dessa violência tem culminado com o feminicídio, que é um tipo de homicídio qualificado, portanto considerado crime hediondo, mas não tem sido tratado assim pelas autoridades policiais e judiciais, em geral. Estamos evidenciando uma explicitação crescente de misoginia, de repulsa e de ódio ao gênero feminino. Tais sentimentos fazem parte da educação pautada no masculino tóxico, onde homens acham que são donos do corpo e da vida das mulheres. Infelizmente, ainda existem e são cultuadas relações de poder entre os gêneros, onde se coloca a mulher em uma posição subalterna, tentando fazê-la mera coadjuvante e vítima de sua própria vida. Imaginemos, e não faz tanto tempo assim, que até 1827 mulheres não podiam frequentar escolas básicas; até 1879, mulheres não podiam ingressar no ensino superior; até 1932, mulheres não podiam votar; até 1962, mulheres casadas precisavam de autorização do marido para viajar, abrir conta bancária, ter estabelecimento comercial, trabalhar e receber herança; até 1983, mulheres eram impedidas de praticar esportes considerados masculinos, como o futebol. A ampliação mais abrangente de direitos das mulheres no Brasil ocorreu somente com a Constituição de 1988, mas que ainda não são cumpridos, haja vista as fraudes, a burla em cotas para as mulheres, perpetradas por partidos políticos em eleições. Ainda há muito por caminhar em políticas afirmativas reais de direito e representação feminina na sociedade, lembrando a vocês, mulheres, que já são maioria no eleitorado, então o que esperam para serem efetivamente esta força que já possuem?
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz