Uma data em si nada representa, uma vez que a sua força de ser está na representatividade daquele dia. Certamente, diversas formas de homenagear o 20 de Novembro está florescendo por todas as mídias, e ainda é pouco, diante da sua força de existir. A maioria, não tenho dúvidas, das pessoas concebem este Dia da Consciência Negra como algo subjetivo, macro, sem fazer um mínimo esforço de aprofundamento nos detalhes da significação. Falo da vida amiúde da famigerada escravidão, cujo Brasil foi e ainda é (trabalhos análogos à escravidão) um péssimo exemplo. Pude mergulhar nesses detalhamentos com leituras que me levaram a raciocinar questões como: as dores físicas desses nossos ancestrais! Não falo apenas dos tenebrosos açoites, mas também dos que tinha doenças crônicas – diabetes, hipertensão, sofreram AVC, labirintite, cálculos biliares e renais...sei que são questões que muitos podem dizer que perdem a força diante de toda sorte de violação da alma (estupro, separação de mães, pais dos seus filhos...), mas reflito agregando a tudo isto a esses processos físicos, sem qualquer amparo, ajuda... O livro Barganhas e Querelas da Escravidão. Tráfico, Alforria e Liberdade. Séculos XVIII e XIX me deu mais dessa visão. A apresentação desse libelo bem pontua que “ele é composto por capítulos escritos por membros do Grupo de Pesquisa Escravidão e Invenção da Liberdade e resultam de investigações sobre tráfico de escravos, alforria e liberdade. A obra reúne textos que evidenciam tradições, tendências e caminhos da historiografia contemporânea sobre escravidão e liberdade.“. Trabalho de excelência das organizadoras da UFBA: Lisa Castillo, Wlamyra Albuquerque e Gabriela dos Reis Sampaio. Diante da insensibilidade dos que acham que não vê tais questões, já que somos todos humanos, eu sugiro apenas lembrar de uma dor que teve e fazer um esforço de empatia para dimensionar o que buscou na resolução do sofrimento. Ademais, não se trata de mais um ponto no já devastado processo de conhecimento histórico da escravidão, mas de reavaliarmos nosso posicionamento face ao sofrimento de todo um segmento social do nosso povo, tendo em foco uma justa reparação, haja vista que nós buscamos toda vez que nos sentimos prejudicados por alguém e ou empresa, por que não tentar reparar todo um sistema que implicou em maldades repressoras, em destroçamento da dignidade de todo um povo? Em verdade, a cada leitura que faço, a cada aprofundamento da história dos escravizados, eu reforço a certeza de que quanto mais fazemos, ainda será pouco diante de tanta maldade que essa nossa gente sofreu.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br