Nesse domingo (21), estive no terreiro Axé Abassá de Ogum, por ser o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa. Fui levar o meu abraço a Yalorixá Jacira Ribeiro. A sacerdotisa com a sua comunidade e amigos organizaram uma grande caminhada até o busto de mãe Gilda, na Lagoa do Abaeté (sua genitora, que morreu por conta de ter sofrido execração, pois colocaram a sua foto em capa de jornal, com tarja nos olhos e foi desqualificada de toda forma). A essa manifestação mãe Jaciara chamou de Primeiro arrastão da liberdade. Fui honrado com o convite e assim que cheguei convidado a uma fala, nada programado. Ali estavam autoridades, seguidores do candomblé, defensores do ideal inter-religioso, como eu. Não me contive. Em minha manifestação disse que não iria falar de paz, nem poetizar sobre ela, mas, sim, da urgente necessidade de, na prática, viabilizar tudo aquilo que estávamos ouvindo ali. Provoquei, ao que fui estimulado pelas palmas que surgiram. Não se trata de vaidade do registro, mas de reafirmar que precisamos, também, bater na tecla que não se trata de datas para termos bonitas imagens e ou fotos, mas de pôr força na resistência, na luta que esse povo de santo sempre teve que enfrentar e enfrenta.
O doutor em antropologia da religião Flávio Conrado considera que o Brasil tem mecanismos legais e democráticos para evitar que o ódio religioso, que vem se alastrando, domine decisões políticas, o que infelizmente vem acontecendo. As pautas, eivadas, muitas vezes, de pura hipocrisia, têm conduzido o compêndio legislativo do Brasil, de forma tendenciosa. O professor-doutor Conrado exalta que “...nós costumávamos louvar o Brasil no sentido do sincretismo. Essa harmonia era atravessada por várias questões do preconceito religioso, mas era um discurso englobante. Agora, estamos diante de um discurso de supremacia, que quer antagonizar as religiões minoritárias e não as englobar em um projeto de convivência”. Cirúrgico e verdadeiro, propõe que nos espaços inter-religiosos se tenha oportunidade de reverter o cenário de radicalização, preconceito e exclusão, asseverando que o discurso de ódio que verificamos nos dias atuais em alcance, principalmente às religiões de matrizes africanas é, além de um projeto de poder, também cultural. O que estamos vendo são representantes religiosos vociferando contra pessoas com guias no pescoço, apenas um exemplo, como recentemente aconteceu no metrô de Salvador, e as autoridades não tomaram como crime que é, falando em investigar. Se fosse um negro assaltando, por exemplo, seria interceptado e preso, é o fato, a realidade. Infelizmente, está havendo o acirramento das relações inter-religiosas e se o poder público não cair com a força das leis sobre os transgressores, vai piorar, pois a impunidade é estímulo natural à manutenção e ampliação de crimes. Todavia, certos operadores políticos só veem votos em determinados segmentos, daí a leniência. Lamentável.
Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.