O assunto que mobilizou a internet, as discussões em almoços de fim de semana foi, sem dúvida, o caso de censura em torno da obra O avesso da pele, de Jeferson Tenório. Após sofrer uma tentativa de censura no município de Santa Cruz do Sul (RS), o romance teve pedidos para ser retirado de escolas em mais três estados: Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná. É algo tão surreal que há uns anos se alguém dissesse que o Brasil passaria a ter censura prévia na arte, certeza que se diria impossível. O pior de tudo é que a justificativa dada pelos governos do Mato Grosso do Sul, de Goiás e do Paraná para recolher os exemplares do livro das escolas públicas é que a obra apresenta “expressões impróprias” para menores de 18 anos, e que, por este motivo, precisaria ser reavaliada ou retirada das bibliotecas das instituições. Eu me pergunto se essas pessoas nunca leram Jorge Amado, Aluísio Azevedo... O Cortiço, por exemplo, é uma de suas maiores obras, nele se vê a constante preocupação com as questões sociais, a crítica ao capitalismo selvagem, ao conservadorismo, ao clero e a valorização dos instintos naturais. O autor frequentemente compara os personagens a animais, aborda a supervalorização do sexo, fala-se muito de várias formas de sexualidade e o sexo aparece no livro muitas vezes como problema moral, mas lá está sendo citado, e até narrado. Há inclusive a descrição de uma cena, sem dúvida, de pedofilia. A personagem Pombinha, que era menor de idade, foi abusada pela prostituta Léonie, que forçou um princípio de relação sexual com ela. Isso é escrito de modo explícito, não proporcionando outras interpretações
O escritor Tenório, do livro censurado, chama a atenção ao dizer, “...o mais curioso é que as palavras de 'baixo calão' e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras.”. É um absurdo tão grande, que me pergunto se essas pessoas, os censores, não sabem que existe internet, sites pornôs e que os seus filhos, netos já viram, ou vêm com certa regularidade...que trocam “confidências” sexuais e até fotos, que chamam de nudes?! Achar que os jovens ficam em seus quartos só estudando, é no mínimo ingenuidade. Ao contrário de tentar evitar, proibir o que precisa ser feito é conversar, esclarecer e orientar essa garotada para o que está no mundo, na sociedade, até mesmo nas escolas. O que acontece no universo desses jovens, nesses dias, é uma escalada de depressão, com crescimento de tentativas de suicídio, como nunca dantes visto. Precisamos entender que não se dar marcha à ré no tempo, nem na sociedade. Pode até sufocar, mas ebule em algum momento.
Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.