Há uma obsessão institucionalizada no Brasil, que propaga que somos um povo pacifista. De forma alguma somos. Essa imagem tem gerado cortinas de fumaça sobre efetivamente como andam, e de há muito, os ânimos patrícios diante de tudo. O professor e escritor Sandro Gomes lança luzes sobre este mito de pacifismo, afirmando que nada mais é do que a construção de histórias que foram contadas erradamente, como “...o genocídio de indígenas, afrodescendentes e pobres de um modo geral que ocorreram e ainda ocorrem no Brasil...outros episódios de rara barbárie e crueldade, perpetrados principalmente a partir de deliberações de nossas forças, como foram a Guerra do Paraguai (onde as tropas nacionais mostraram incrível disposição para o extermínio cruel) ou os nossos conflitos domésticos, como Canudos, Palmares e Contestado, só para citar alguns.”, relembra o estudioso. Reporto-me a esses fatos, para falar que o solo brasileiro ficou bem sedimentado para o crescimento de grupos ligados a ideologias de raízes nazistas, como os “red pills” e o masculinistas. Esses grupos não têm nada a ver em contrapontos ao feminismo, nem de longe. É uma cultura de repulsa e extremos ódios às mulheres, culpando-as de vitimismo, considerando, segundo esses fanáticos, que elas usam da mentira para se vitimizarem.
Semana passada, a ativista Maria da Penha Maia Fernandes, que deu nome à Lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, foi ameaçada por esses grupos de extrema direita. Há dezoito anos essa lei, que foi considerada pela ONU – Organização das Nações Unidas, como uma das três leis mais avançadas do mundo no enfrentamento à violência doméstica. Infelizmente, a farmacêutica que foi vítima de violência doméstica, vindo a ficar paraplégica, passará a receber segurança particular do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), pois as ameaças estão escalando a patamares perigosos afirma o Governo do Ceará onde a ativista reside.
Já passou da hora do Brasil começar a ver com acuidade os seus princípios legais, sem essa mentira de pacifismo, nem mesmo o tal pensamento de que “há leis que não pegam”. O Brasil é pioneiro, por exemplo, em morte de pessoas LGBTQIA+, e não me recordo de condenações exemplares desses homicidas. A intolerância religiosa só cresce. O racismo está aí nos noticiários. Não podemos mais naturalizar forma alguma de violência. Acredito que colocar uma cortina de fumaça de pacifismo só evidencia a falta de conhecimento dos processos sociais, humanos que vem maculando a realidade da nossa história. As ruas não estão cheias de pacifistas, haja vista o que vemos o tempo todo nos noticiários.
Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio