Não há como não conceber que o Brasil seja um país dos paradoxos. Figura de linguagem ou de pensamento que consiste na expressão de uma ideia contrastante. O paradoxo exprime oposição em uma aparente lógica, além de conter em si uma contradição, uma incoerência, por apresentar elementos que se opõem. O nosso País, portanto, é assim: em tudo contraditório.
Nesse último fim de semana três igrejas católicas do Rio de Janeiro suspenderam as atividades, após uma ordem do chefão do tráfico do Complexo de Israel, Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão. Moradores ficaram sabendo que bandidos armados foram até as paróquias comunicar a decisão do traficante. As informações são do jornal O Dia. O motivo, creia, é que o traficante está se aborrecendo com as missas e atividades das paróquias, porque ele é evangélico. Sim! o criminoso acusado de comandar a distribuição de drogas na região da Cidade Alta e Vigário Geral, é cristão e comete o crime de intolerância religiosa.
Parece piada, mas é a crua realidade do Brasil. Esse traficante parece personagem de Ariano Suassuna ou mesmo do inigualável Jorge Amado, o “cabra”éda fé cristã. Nesses tempos que muitos chamam de estranhos, o inusitado surge forte, mas não tão distópico assim, haja vista que já vimos de tudo em templos religiosos, desde os criminosos abusos sexuais, passando por manipulação de princípios bíblicos, até mesmo fiéis – só não sabe a quê? – empunhando armas pesadas para fotos.
Infelizmente, a sociedade brasileira tem normalizado o esdrúxulo, o bizarro, até o criminoso, considerando que sejam situações desses tais tempos difíceis. Nota-se uma grande confusão em questões de princípios, de cunho universal, com o que seja moral, de ação temporal e circunstancial. Estamos assistindo a razão perdendo força para a emoção descalibrada, nascida da manipulação da crença de pessoas de boa-fé.
O francês Blaise Pascal já afirmava, em suas elocubrações teológicas e filosóficas, a existência de uma tal razão do coração, propondo, ainda, que não conhecemos a verdade apenas pela razão, mas também pelo coração, pelos desejos e históricos de nossas vidas. Ponderava, de outra parte, também, que é vã a luta para combater os ditames que não nasçam somente da razão, pois será sempre uma luta inglória. Infelizmente, acompanhamos e vai crescer essa onda, a subversão da dimensão verdadeiramente religiosa, confundindo princípios teológicos com mercadoria de consumo, voltada às conquistas e interesses notadamente humanos, invertendo totalmente o sentido da própria palavra religião, na sua acepção de religare – criatura ao criador. Não mais se fala em uma teologia para a caridade, para o acolhimento, mas sim para o poder.
Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.
