Instado por alguns seguidores e ouvintes dos meus programas de rádio aqui em Salvador (rádio Metrópole) e de São Paulo (rádio Boa Nova), fui assistir à série Pedaço de Mim, da Netiflix, com Juliana Paes e Vladimir Brichta que se encontram muito bem. A novela, que estreou em 5 de julho na tv por assinatura, conseguiu, quase que imediatamente ser a produção mais vista das brasileiras no catálogo do streaming a alcançar sucesso global.
Na terça-feira (16), a empresa noticiou que a novela chegou ao top 1 mundial, consolidando-se como a atual série de língua não inglesa mais vista da plataforma. Mas, honestamente, não gostei e não entendi o sucesso todo. Trata-se de um melodrama catequético sem intercessão com a realidade, mas parecendo novelão mexicano ou turco. Ainda que pese ser baseada, segundo a Netiflix, em uma história real, "Pedaço de Mim" narra a trajetória de Liana, uma mulher que sonha em ser mãe, tendo como fundo de pano o raro fenômeno da superfecundação heteroparental, onde a protagonista engravida de dois homens diferentes ao mesmo tempo, sendo que, no caso abordado, uma das fecundações foi por estupro.
Inquietou-me o folhetim em 17 capítulos, – não cheguei até o fim, mas vou perseverar – porque o roteiro não retrata as discussões existentes no Brasil, não existindo uma diversidade cultural e étnica, consequentemente de clara tendência europeia, majoritariamente branca no espectro da classe média alta brasileira. Não se trata aqui de posicionamentos ideológicos, mas, entendo, de fuga da realidade, inclusive com apelo retrógrado, bem ao sabor dos anos 60/70, inclusive nos cenários residenciais, ao gosto de outros países latinos, não dos lares brasileiros.
Por que está fazendo este sucesso todo? Não sei. Talvez essa onda que se encontra no mundo inteiro de retorno e ou estagnação do avanço de discussões contemporâneas, que acrescente luzes aos velhos e embolorados processos estratificados como aceitáveis, ou tradicionais. A sociedade avança em seus conceitos, atitudes, comportamentos e imaginar que se breca esta marcha, ou, o pior, retroage no tempo, é ilusão, criação de um mundo de Alice. Preocupante, portanto, são essas tentativas, pois ao pararmos as demandas inquietantes e ficarmos no faz de conta que nada está nos envolvendo, é, penso assim, deixar que avancem concepções destoantes do chamado mundo lá fora, onde estão os nossos filhos e netos.
Não gostei de Pedaço de Mim, repito, achei catequética, piegas e sem contato com a realidade brasileira, mas é sucesso, vai entender...
Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.