Nessa terça, 21, registrou-se o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que foi instituído no ano de 2007 pela Lei nº 11.635 em homenagem à Mãe Gilda – mãe biológica de minha querida amiga, Iyalorixá Jaciara Ribeiro. Ela foi vítima de intolerância religiosa em outubro de 1999, quando teve seu templo invadido, depredado e o seu marido agredido por fundamentalistas religiosos. Em razão dos dissabores passado, mãe Gilda falece. Infelizmente, dados do Disque 100 mostraram que as denúncias por intolerância religiosa no ano
passado cresceram 80% em comparação a 2023. O fato é que intolerância em geral é a atitude odiosa, hostil e muitas vezes descambando para a violência física aos diferentes de opiniões, culturasereligiões dos agressores, sendo a religiosa materializada por condutas de deslegitimação de crenças, de modo a estigmatizar, excluir, desqualificar, segregar e silenciar a fé e rituais considerados inferiores, em uma tentativa de manutenção do exercício de poder do que é socialmente visto como hegemônico. Ao longo do processo de formação religiosa do povo brasileiro, o que vemos são as religiões de matrizes africanas desumanizadas e demonizadas, sendo os seus praticantes perversamente marginalizados, perseguidos, não raro, em nome de Cristo.
Minha amiga de saudosa memória, a educadora Makota Valdina (Makota é o cargo, a zeladora dos orixás nos terreiros de Candomblé), falecida em 2019, dizia com grande propriedade que não deveria se pedir tolerância às religiões diferentes das professadas pelos agressores, mas respeito. Respeito! Haja vista que tolerar é suportar, e não se trata de suportar, mas de aceitar, inclusive por força constitucional, na laicidade do País. Todavia, o processo de violência contra as religiões, repito, de matrizes africanas só cresce. Evidencia-se, claramente, que o Estado brasileiro não assume para si o compromisso de fazer cumprir as leis tangentes a esses crimes, naturalmente porque a maioria, quiçá, a totalidade é praticada por segmentos religiosos com forte poder político, que geram uma espécie de sequestro da vontade de agir com a firmeza que a situação clama. Inclusive, foi aprovada no último dia 10 de dezembro, na Assembleia Legislativa da Bahia, a Lei 25.594/2024, que cria a Delegacia Especializada de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa (Decrin). Espero, sinceramente, que não seja apenas a chamada perfumaria, que serve para boas fotos, recortes em mídias sociais, mas que não age com a energia necessária, para dissuadir tais práticas criminosas.
Não tenho a informação de condenação alguma e efetivação da sentença a cometedores desse crime. Envelheço e não consigo entender a dificuldade das pessoas em apenas respeitarem os diferentes.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops. Além disso, também escreve para o BNEWS.