Não é apenas nesses dias que correm, mas notamos de algum tempo uma ideia latente e se assanhando, no que se convencionou chamar de ‘pauta de costumes’, em uma espécie de retorno a valores hipócritas, que foram se desmoronando com o avanço de direitos civis gerais. Há estudiosos que afirmam que esses ensaios de retrocesso, alguns com êxito, nada mais é que um cortina de fumaça ou balão de ensaio para movimentos mais profundos e de maior impacto na sociedade, muitos afirmam que em verdade o que estamos vendo e até travando é uma guerra cultural, onde devagar, mas continuamente vai se armando a população com o retorno de conceito já superados, de preconceitos. Esgaça-se o tecido social, para se implantar ideologia de consumo moral ultrapassado. Ao ver a Academia de Cinema, com o seu cobiçado Oscar, transformar a estrela do filme Emilia Pérez (2024), Karla Sofía Gascón, mulher trans, exultei. A diversidade se evidenciando de forma revolucionária, inclusive em momento de posse de um extremista, Donald Trump. No entanto, o inverso aconteceu: voltaram à tona antigos tuítes preconceituosos feitos pela atriz. Naturalmente, ela declarou que as postagens divulgadas foram “fabricadas” e distorcidas e têm como objetivo sabotar sua indicação ao Oscar.
Gascón se desculpou pelo teor das mensagens expostas “Minhas desculpas mais sinceras a todas as pessoas que possam ter se sentido ofendidas pela forma como me expressei no passado, no presente e no futuro.", mas o estrago foi feito. Em entrevista à CNN da Espanha, sua terra, ela afirmou que ao falar sobre George Floyd (um afro-americano assassinado em Minneapolis, em 2020, estrangulado pelo policial, que ajoelhou em seu pescoço durante uma abordagem por supostamente usar uma nota falsificada de vinte dólares) ela rearruma a declaração pretérita que ele era um viciado e drogado, dizendo agora que “ele era uma pessoa que estava em uma situação muito difícil na vida dele e ninguém o ajudou. E, de repente, ele se torna um símbolo de uma causa e todos passaram a amá-lo.”. Além disso, em setembro do mesmo ano, a atriz fez comentários sarcásticos sobre uma imagem de uma família muçulmana, criticando o islamismo de forma contundente e comparando-o a uma doença. “O Islã é maravilhoso, sem nenhum machismo. As mulheres são respeitadas e, quando são muito respeitadas, deixam um quadrinho no rosto para que os olhos e a boca fiquem visíveis, mas só se elas se comportarem. Embora elas se vistam assim por sua própria vontade. Que asco mais profundo para a humanidade”, declarou. O estrago estava feito, ela que havia subido que nem um foguete, despenca, levando, infeliz e lamentavelmente a visibilidade de uma causa tão necessária neste século XXI. Melancólica participação no palco internacional de visibilidade teve uma mulher trans. Lamentável.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops. Além disso, também escreve para o BNEWS.