O Afoxé Filhos de Gandhi proibiu a participação de homens trans em seu desfile no Carnaval, para surpresa geral. Certamente, os que concordam com tal decisão, tendo como referência o pacifista Gandhi, não tem o menor conhecimento da história do hinduísmo, religição do mahatma. Nascido e criado em uma família hindu no litoral de Guzerate, oeste da Índia, a religião de Gandhi tem grande ligação com as questões LGBTQIA+. Há muitas divindades que mudam de gênero na mitologia hindu, manifestando em diversos momentos em sexos diferentes, transformando-se em seres andróginos ou hermafroditas. Também há seres não-divinos que passam por mudanças de sexo por meio da intervenção dos deuses, como resultado de maldição ou bênção, ou ainda como resultado natural de sua reencarnação.
Há os famosos hijra, que formam uma casta de homens castrados que se vestem de mulher e existem há séculos na Índia. A tradição indiana propaga que eles têm poderes mágicos, e sempre é sinal de bons presságios o encontro com um deles. Eles são pessoas transgêneros, intersexos ou eunucos devotas à deusa Bahuchara Mata e seus seguidores se vestem e agem naturalmetne como mulheres.
A diretoria do afoxé precisa entender que a homenagem a uma pessoa implica em respeito a sua história e a suas tradições, penso desta forma, ainda que o meu pensar significado algum tenha, mas à guisa de vergonha alheia: um transexual britânico vem se tornando o principal centro das atrações na cidade sagrada hindu Becharaji, no oeste da Índia. Milhares de fiéis têm formado filas para receber a bênção de Stephen Louis Cooper, a quem acreditam ser um mensageiro de Bahuchar Mata, uma das deusas indianas. Cooper, que diz ter sido diagnosticado com um transtorno de gênero, gosta de se vestir com um sari, a vestimenta tradicional das mulheres hindus, e prefere ser tratado como uma mulher.
O presidente do afoxé tem se manifestado, quando questionado sobre a regulamentação, que “nada tem a declarar”. É impressionante como há tanta preocupação com a sexualidade do outro(a), como se a identidade de gênero de alguém fosse interferir, atingir, de alguma forma ou medida, a do que se opõe às pessoas serem o que simplesmente elas são. Dá a impressão de que precisa impor uma hetero normatividade para se crer que todos que ali estão são efetivamente da mesma identidade ou orientação sexual.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops. Além disso, também escreve para o BNEWS.